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A ÁGUIA E A GALINHA

A ÁGUIA E A GALINHA
A ÁGUIA E A GALINHA

Conheçam o meu livro: MARIA, MADALENA,AMÉLIA, CÚ.

domingo, 21 de março de 2010




CADA UM COM SEU CADA UM
Cada macaco no seu galho. Cada pássaro em sua gaiola. E cada cavalo no seu estábulo. Cavalo? Adverti sobre cavalos? Talvez por que tivesse ficado horas a fio observando um veterinário de renome e conhecidíssimo naquela região, em seu trabalho cotidiano. Ele parecia um médico. Aliás, ele era um médico. A diferença é que cuidava de seres irracionais.

Uma cena de visão dúbia: sabia da importância de “etiquetar” os animais, mas sabia também, o quanto aquilo era doloroso para o animal. Deus nos acuda. Ele estava carimbando os cavalos. Eu não sabia nada sobre medicina veterinária, menos ainda sobre os nomes daqueles equipamentos cirúrgicos. Só conseguia ver que tinha brasa na ponta, e que era feito de ferro. O veterinário, com todo cuidado, aquecia o equipamento e o impregnava na parte traseira do animal. Esta cena deve ter se repetido aproximadamente umas dez vezes, em cavalos dos mais diferentes tipos e raças. A reação inicial do animal era comum: Um coice. Revide ao aquecimento doloroso.

Imagine você sendo queimado por um ferro à brasa. Mas logo depois se acalmava. Mas, o que mais chamava a minha atenção, era a reação deles, ao perceber que o médico estaria aquecendo novamente o equipamento. Eles rodopiavam nervosos e agitados. A sensação era de que, uma vez marcados, já tinham aprendido a lição. Sabiam o quanto era árduo e doloroso e não queriam novamente a este ritual se subordinarem.

Quem dera os humanos fossem assim. Da ficção para a realidade. Mulheres, cadê os animais que moram dentro de vocês? Sinto que é hora de aprender com os irracionais. Somos vítimas da violência doméstica. Somos estupradas, espancadas, maltratadas. Somos usadas, colocadas à mercê da vontade daqueles com os quais resolvemos nos acorrentar. Neste caso é corrente. Pra não chamar de algemas, e dizer que, estas mulheres, são sujeitas ativas para aumentar ainda mais a pressão dos elos. E, conseqüentemente, serem sufocadas por esta compressão. A maioria delas acredita que as chaves, só os respectivos esposos têm. Ledo engano. Desatem os nós. Livrem-se das correntes. Não podemos permitir que o tratamento que nos foi dado equivocadamente há anos, de seres frágeis, nos escravize. Isso é escravidão!
Só mudaram as vítimas, a cor da pele e as questões sociais.
Mudaram o cativeiro. Somos presas dentro de nossas próprias casas, impedidas de dialogar, vítimas de espancamentos dos mais diversos, sem açoite. E eles, os réus confessos, se escondem atrás das drogas lícitas e ilícitas, atrás dos problemas de cunho social, atrás de suas próprias máscaras. Coitados? Coitadinhas de nós.
Mas, por favor retirem o dó. Ainda bem que criaram as delegacias de mulheres. Não se assustem: 70% daquelas que fazem representação contra a violência, desistem antes mesmo de gerar um processo. A resposta delas é sempre a mesma.

- Tenho medo do que ele vai fazer comigo.

È como ganhar uma máquina de lavar de última geração e ser impedida de usar porque a conta de luz vai ficar mais cara. Uma aberração. O amor-próprio deve ter saído pra comprar cigarros e nunca mais voltou. Ainda bem que não tivemos notícia da morte dele. Isso faz com que tenhamos esperança no seu retorno. Cada um com seu cada um. E assim... Os cavalos continuam sendo carimbados. E as mulheres... Continuam acorrentadas, marcadas e escravizadas. Realidade nua e crua. Doa a quem doer.
Mônica Mello
Publicado no Recanto das Letras em 09/12/2008

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