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A ÁGUIA E A GALINHA

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Conheçam o meu livro: MARIA, MADALENA,AMÉLIA, CÚ.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

MULHERES DE CORAGEM, MAIS UM DEPOIMENTO!


MULHERES DE CORAGEM
Por Camila Martins

Vítimas da violência doméstica, elas encontram nas casas-abrigo a proteção e a chance de mudar de vida


Ana é a responsável pela limpeza do centro social de uma igreja na grande São Paulo. Morena bonita, beirando os 35 anos, conversa bastante e sorri enquanto trabalha. Quando dá meio-dia, hora de seu almoço, avisa: “Vamos porque só tenho uma hora.” Enquanto seguimos em direção a uma das salas, explico que a matéria é sobre abrigos para mulheres que sofrem violência doméstica. Ana começa a tremer, e assim que sentamos ela diz, com voz engasgada: “falar disso ainda é muito difícil pra mim.”

Baiana de Salvador, Ana conheceu seu ex-marido, D., quando ainda era menina. “Ele sempre ficou atrás de mim, dizendo que me amava, até que, aos 18 anos, aceitei namorar com ele”. Depois de um tempo juntos, D. mudou-se para São Paulo para “tentar a vida”. Sete meses depois, Ana foi fazer uma visita ao namorado, e acabou ficando. Nunca suspeitou da agressividade do companheiro.

O primeiro soco aconteceu depois de quatro meses na capital paulista. “Estávamos em uma festa quando percebi que ele estava me desrespeitando, dando em cima de outras mulheres na minha frente. Falei isso pra ele, mas ele não respondeu nada. Assim que chegamos em casa, ele se transformou. Trancou a porta do quarto e me deu um soco na cara. Me fez deitar de lado no chão, sem roupa, e disse que se eu me mexesse ia me esfaquear. Fiquei assim das seis da manhã até às sete da noite”, recorda Ana. A alegação que D. dava para bater na esposa era que Ana não era mais virgem quando começaram o relacionamento.
Também foi nessa época que D. ficou desempregado e entrou para a vida do crime. Não demorou muito pra que fosse preso. No feriado de sete de setembro, Ana estava em casa quando o marido apareceu. Tinha fugido. “Fiquei com medo, mas deixei que ficasse lá porque eu ainda gostava dele. Foi dessa vez que eu engravidei. Em nenhum momento ele aceitou a gravidez, me batia e xingava toda hora, dizia que ia abrir minha barriga com a faca e tirar a criança de dentro.”

Com o tempo, as agressões foram aumentando. Ana era agredida verbalmente. Tapas e pontapés também eram comuns. Até que chegou a vez do abuso sexual.

Depois de um assalto que D. e os amigos fizeram, eles foram comemorar com uma festa na casa de Ana, que durou o dia todo. “Eles usaram muita droga. Fiquei esperando do lado de fora, até que anoiteceu e eu precisava colocar meu filho pra dormir. Quando entrei em casa, ele olhou pra mim e disse: ‘me espera lá em cima porque hoje eu estou animado e quero transar com você a noite inteira’. Deitei na cama e fingi que estava dormindo, estava morrendo de medo. Quando ele chegou perto, cumpriu o que disse. Me estuprou durante toda a noite.”

Mais violência

Ana não reagia. Entrou em depressão, largou o emprego, parou de tomar banho e chegou a pesar 38 quilos. Só saía de casa às segundas-feiras, para levar o filho na fonoaudióloga. Nunca buscou ajuda, até o dia da inauguração de uma Casa de Referência em sua rua. No entanto, mesmo sabendo dos seus direitos, Ana não quis fazer boletim de ocorrência.

Só depois da terceira fuga de D. da penitenciária, Ana começou a mudar de opinião. Mesmo sem ter mais nenhum vínculo afetivo com o marido, ela aceitou a permanência dele na casa até que arrumasse um lugar para ficar. Enquanto isso, ele dormiria em um colchonete na cozinha. As agressões só pioraram.

“Ele me xingava o dia inteiro de puta, de vagabunda, dizia que eu só estava fazendo aquilo porque estava com outro homem. Era tanto palavrão que o meu filho falava: ‘respeita a minha mamãe, meu papai’”.

Muitas noites, Ana acordava assustada achando que estava sendo alisada. “Tinha certeza que ele estava fazendo isso, mas fazia eu me passar por louca”. Certa vez, acordou no meio da noite com um barulho de faca raspando no chão. “Fui correndo na cozinha ver o que estava acontecendo, abri uma das gavetas e vi que o facão de cortar coco tinha sumido. Ele começou a dar risada e me mostrou o facão escondido embaixo do colchão, disse que ia me matar naquela noite. Acho que ele só não me matou porque meu filho ajoelhou nos pés dele implorando pra ele não fazer nada.”

O ponto final chegou no dia em que Ana virou a agressora. “Mais uma vez, durante a noite acordei com ele querendo se masturbar em cima de mim, com o meu filho deitado do meu lado. Fiquei maluca, fora de mim. Cravei minha unha na bochecha dele até sair sangue. Ele não teve reação nenhuma, só pedia para eu parar de fazer aquilo em nome do nosso filho – argumento que eu sempre usava quando ele me batia. Enquanto isso, eu enchia ele de soco, de mão fechada mesmo. Mordia com tanta força, que tirava os pedaços de carne da boca. Só parei quando meu filho acordou chorando e viu o pai todo ensanguentado. Foi ali que eu vi que não podia mais continuar naquela vida, dentro daquela casa. Quando amanheceu, o D. saiu, eu peguei algumas peças de roupa, filho, cachorro, e fui direto pra Casa de Referência. De lá, fui levada pra um abrigo”.




VOCE PODE E MERECE SER FELIZ!
TENHAM UM LINDO DIA!!