A violência doméstica Diversos são os problemas decorrentes desse tipo de violência, como taquicardia, depressão, insônia, pressão alta, palpitação e até as DSTs que são sintomas comuns apresentados por mulheres vítimas da violência doméstica, porém que dificilmente são atrelados pelos médicos dos pronto socorros a esse motivo. Se os prontuários médicos adotassem o quesito “violência de gênero”, seria mais fácil diagnosticar o cerne da questão. Sendo assim a maioria das vítimas ainda não se sente à vontade para explicar o real motivo de suas queixas, e por isso perambulam de um hospital para o outro. Doenças sexualmente transmissíveis, doenças pélvicas inflamatórias, gravidez indesejada, aborto espontâneo, dores de cabeça, doenças gastrointestinais, hipertensão e outras doenças crônicas, além de comportamentos danosos à saúde, como fazer sexo inseguro, abusar de drogas e do álcool têm uma incidência bastante alta nas pessoas que vivem em situação de violência doméstica. Surgem ainda transtornos psíquicos como depressão, ansiedade e suicídio (Heise in Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1994, p.146-55). Entendemos, no entanto, que não basta garantir o atendimento à saúde. É necessário o resgate da cidadania e dos direitos humanos das mulheres tais como o reconhecimento de seus direitos sociais, econômicos, civis e políticos. Muitas mulheres afirmam já ter sofrido algum tipo de agressão e muitas diz ter consciência de que seus agravos de saúde estão associados à violência, mas nunca conversam com ninguém sobre o assunto. A violência doméstica precisa de políticas públicas para ser combatida. Infelizmente, esse tipo de violência está impregnado em qualquer sociedade e não escolhe classe social. Mas suas conseqüências podem ser evitadas se o sistema de saúde abrir espaço para capacitar profissional com finalidades diretas a esse tipo de atendimento.
O sofrimento das mulheres vítimas de violência doméstica traz graves conseqüências à saúde física e mental, podendo ser responsável pelo desenvolvimento de depressão e fobias. Mulheres que vivem com parceiros violentos encontram dificuldades para cuidar de si próprias, procurar emprego, estudar e desenvolver formas de viver com conforto e autonomia, contribuindo ainda mais para seu sofrimento psíquico e social, ficando claro então que em relação aos aspectos econômicos, as mulheres em situação de violência perdem com mais freqüência o emprego, têm mais dificuldades em negociar aumentos salariais e promoção na carreira profissional, principalmente por ficar em duvida com relação ao que seu parceiro irá pensar de sua promoção. São inúmeros os prejuízos também causados às crianças que de um modo geral assistem as cenas violentas entre os pais, que podem ser também diretamente afetadas e sofrem conseqüências emocionais, como ansiedade, depressão, baixo rendimento escolar, baixa auto-estima, pesadelos, etc. Baixa auto-estima A insegurança pessoal, a baixa auto-estima, a depressão e os problemas de personalidade podem levar a conduta violentas. Há vários estudos que mostram uma evidente relação entre o consumo excessivo de álcool e a violência, embora não esteja claro se beber desencadeia o problema ou serve de justificativa. Entre os casos de agressões físicas, pelo menos um terço é de abusos sexuais, um problema que, para muitas destas mulheres, começa na infância ou na adolescência. A violência entre os casais deixa várias seqüelas, entre elas, além dos traumatismos, problemas gastrointestinais, dores crônicas, depressões e comportamentos suicidas. Acredita-se que há uma série de fatores de risco entre os homens mais propensos a abusar de suas mulheres como a existência de antecedentes de violência familiar, especialmente se eles mesmos foram agredidos quando eram crianças. Dezenas de milhares de mulheres sofrem todo ano de violência sexual nos serviços de saúde, como assédio sexual, mutilações, exames ginecológicos forçados e controle de sua virgindade.
O relatório da OMS afirma ainda que, embora seja importante reformar os sistemas jurídicos e policiais para tratar o problema da violência contra a mulher, estas medidas são ineficazes se não são acompanhadas de mudanças culturais e nas práticas institucionais. Segundo Heise, a violência doméstica e o estupro são considerados a sexta causa de anos de vida perdidos por morte ou incapacidade física em mulheres de 15 a 44 anos – mais que todos os tipos de câncer, acidentes de trânsito e guerras. Sendo assim, é um tema que merece total atenção, porque, pode acarretar conseqüências emocionais aos filhos que testemunham a violência. As mulheres que relatam terem sofrido violência doméstica apresentam formas combinadas de agressões físicas, como nódoas negras, fraturas, queimaduras, marcas de tentativas de estrangulamento, golpes provocados por instrumentos cortantes, etc, e de agressões psicológicas que retratam como seqüelas medo, isolamento afetivo, dependência emocional, sentimentos de culpabilidade e quadros depressivos. Dessa forma, nossa proposta foi verificar a ocorrência de depressão e a presença de algum traço de personalidade que pudessem comprometer a saúde das mulheres vítimas de violência doméstica que decidem permanecer na relação conflituosa, de agressão. as mulheres agredidas e que permanecem no vínculo conjugal são mais propensas à depressão, exprimindo sentimentos de solidão, tristeza, desamparo, descrença, irritação, baixa auto-estima e baixa auto-confiança, não conseguindo assim se perceber e nem desenvolver a auto-esficácia, formando assim, um círculo vicioso: as mulheres agredidas que permanecem com os companheiros agressores tornam-se freqüentemente, agressivas, o que leva os casais a terem um dia-dia cada vez mais violento, em que os conflitos se multiplicam e se intensificam.
Depressão Stefanis e Stefanis, (2005) nos trás informações dizendo que Depressão e transtornos mentais associados são temas abordados desde a Antigüidade, onde estes datam de 2600 a.C. é que se encontravam os primeiros documentos que abordavam esses temas. Entretanto, foi a partir dos estudos de Hipócrates (460-370 a.C.) e de seus discípulos que surgiu o conceito de “melancolia”. Interessante ressaltar que juntamente com este conceito, surgiu o primeiro critério diagnóstico para a condição, que propunha: “se a tristeza persiste então é melancolia”. Freud (1905 apud ZAVASCHI; SATLER; POESTER, 2002) formulou a hipótese de que o psiquismo seria estruturado a partir do patrimônio genético, modelado pela primitiva relação do bebê com seus pais, modelando também seu comportamento, ou seja, a relação primitiva do bebê com sua mãe se estabelecem de forma inalterável, sendo o protótipo de todas as relações posteriores e fundando o ego, que se constrói ao longo do desenvolvimento. Diante da ameaça de separação da mãe, o bebê responde com ansiedade e, perante sua perda real, com a dor do luto. Sendo assim podemos pensar que os sentimentos depressivos vêm do interior da pessoa e não de fora dela, aqui começa-se a perceber a Depressão como sendo um Transtorno Afetivo ou do Humor, caracterizada também por uma alteração psíquica e orgânica global, em conseqüência à algum evento traumatizantes, como a violência domestica com conseqüentes alterações na maneira de valorizar a realidade e a vida. Beck et al (1997) define o quadro de depressão como sendo caracterizado por uma série de sintomas que a terapia cognitiva entende que, no plano psicológico, sejam disparados pelos pensamentos disfuncionais, dai entao os comportamentos disfuncionai, precisamos trabalhar alguns comportamentos a ser atacados, nas mulheres que sofreram violencia domestica, objetivamente, por meio de sua delimitação específica, de modo a poderem ser tratados, estes envolvem sintomas afetivos (tristeza, culpa, vergonha, raiva, ansiedade), sintomas motivacionais (desânimo, dependência), sintomas cognitivos (indecisão, autocrítica, falta de concentração), sintomas comportamentais (passividade, evitação, inércia, déficits em habilidades sociais) e sintomas fisiológicos (insônia, perda de apetites). Esse nos parece ser o quadro vivenciado pelas mulheres vitimas da violencia domestica.
As mulheres vitimas da violência domestica que estão desenvolvendo a depressão, passa a ter sentimentos inapropriados de desesperança desprezando-se como pessoa e até mesmo se culpando pela doença ou pelo problema dos outros, sentindo-se um peso morto na família, que já se encontra adoecida pela violência vivenciada. A Depressão não deve ser confundida com uma simples tristeza. Devido à banalização do termo "depressão", um grande contingente populacional utiliza esta terminologia de forma equivocada, dificultando assim o diagnóstico. De acordo com o (DSM-IV, 1994) alguns comportamentos peculiares permitem que o diagnóstico seja realizado de maneira precisa. A seguir, serão apresentados os critérios diagnósticos para o episódio depressivo: - Falta de interesse em realizar atividades que antes eram considerados como prazerosas pelo indivíduo. - Humor deprimido diariamente com sentimento de tristeza. - Perda ou ganho significativo de peso, sem realizar qualquer regime ou dieta. - Insônia ou hipersônia quase todos os dias. - Sensação de fadiga, mesmo não tendo realizado qualquer atividade física. - Sentimentos de culpa e inutilidade. - Pensamentos de ruína, destruição ou suicídio (ou tentativa). No entanto, torna-se necessário salientar que ao se fazer o diagnóstico de Depressão, a paciente pode apresentar apenas alguns destes sintomas, o que sugere um quadro de depressão moderada, outros pontos de elevada importância para se realizar o diagnóstico são o fato de a enfermidade não estar relacionada ao consumo de substâncias tóxicas e não ter vínculo com um episódio de luto (a não ser que os sintomas persistam por mais de dois meses). Enfatiza-se que para se realizar o diagnóstico de depressão maior em algum indivíduo, várias instâncias de sua vida se mostram prejudicadas, como por exemplo, relacionamentos afetivos, sociais, auto-higiene e ritmo de trabalho. Podemos também encontrar informações acerca da depressão, de forma bem delimitada, para a elaboração de um diagnostico claro e seguro e com diversas distinções em (CID - 10, 1993, p.88) No referido manual encontramos que o humor do depressivo varia pouco de dia para dia, ou segundo as circunstâncias e pode se acompanhar de sintomas ditos "somáticos", como perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora importante, agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave. Comportamento Depressivo Existem características e comportamentos desenvolvidos pelo individuo que se encontra no estado depressivo, que podem ser observado e trabalhado com eficácia através dos processos cognitivos, porém se forem observados, focalizando o comportamento disfuncional a ser trabalhado.
Rangé (2001), nos trás acerca dos condicionamentos que acabam desenvolvendo pensamentos e sensações automáticas, como na hora de comermos, sentimos tanto um alerta no pensar como no sentir, porém antes disso não, sendo assim aprendemos também a tolerar frustrações para que possamos participar da vida social, sem grandes prejuízos sociais e nem individuais, porém em determinados momentos o individuo que esta diante de uma nova situação com o mesmo nível de frustração acaba descondensando e desenvolvendo comportamentos depressivos. O comportamento depressivo vai depender claramente de fatores ambientais específicos incluindo-se assim o fator tempo-espaço, que também irá contribuir significativamente para essa percepção distorcida e causadora do atual estado comportamental do individuo, ou seja qualquer que seja o evento que faça a mulher lembrar da violência vivenciada por ela desencadeará o seu comportamento depressivo, assim pensa Rangé (2001, p. 22): A revelação destes processos implica que o comportamento de um individuo não é, necessariamente, consistente e estável, mesmo em situações relativamente diferentes; mas sim que seu comportamento é função de condições ambientais específicos com as quais fica associado por mecanismos de aprendizagem. Logo se percebe então que se um individuo tem um comportamento depressivo isso não está ligado a sua infância mal resolvida, nem de traços de sua personalidade, mas sim na interação e a aprendizagem deste individuo com o meio, modelando assim o seu comportamento e o seu modo de ser no mundo.
Conclusão
Percebe-se então que na questão da violência domestica existe uma relação de opressor e oprimido, onde este somente deixará de ser oprimido a partir do momento em que começa a desenvolver uma luta por liberdade e exigência de seus direito. A violência não pode ser vista como um fenômeno inerente à natureza humana, mas como um fenômeno condicionado ao modo de organização social, que é historicamente construído. Existe a violência estrutural, constitutiva da condição de ser - humano - condição essa que tem nas relações sociais, o próprio espaço das relações de poder. A violência domestica contra a mulher é um fato que vem ocorrendo ao longo dos anos, porém que nos parece chegar o momento de se dar um basta pesquisado assim a etiologia do problema, deixando de tratar apenas os casos já ocorridos que desenvolvem nas mulheres sentimentos inadequados com sofrimentos significativos e baixa auto-estima, fazendo com que as mulheres vivenciem situações e comportamento de depressão e baixa qualidade de vida, daí então faz se necessário e de grande importância a retirada dos comportamentos depressivos, pois estes impedem que a pessoa se perceba como um ser-no-mundo que tem direitos e estes devem ser respeitados. É necessário desenvolver a auto-eficácia para que assim esta mulher possa contribuir com a justiça na intenção de combater a violência domestica contra a mulher, porém, não só combater os casos já existentes, mas sim, poder chegar a etiologia do problema, trabalhando assim o que causa a violência domestica e não mais somente os casos já ocorridos.
Referência Bibliográfica
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